>Uma pequena declaração sobre a história do projecto e a forma como >vão ser usados os respectivos prémios. Algo muito simples com os >motivos que levaram à ideia do Panasync e a forma como evoluiu (e vai >evoluir). E, já agora, uma breve declaração sobre o Open Source. O Panasync resulta do fechar de um círculo que envolveu motivação prática, investigação teórica e, finalmente, desenvolvimento das ferramentas apropriadas. A motivação inícial para a investigação partiu da análise de um caso "da vida real": a dificuldade em determinar quais os ficheiros obsoletos e quais os que são importantes, em situações onde existam várias cópias de ficheiros editáveis (textos, listas de itens, código fonte, ...) que estão ou estiveram dispersas. Estes casos ocorrem frequentemente sempre que os utilizadores fazem cópias "para levar de fim de semana" e depois se esquecem de que elas existem, ou na normal e usualmente caótica gestão de cópias de segurança sem recurso a ferramentas de controlo de versões ou de backup. Um outro problema ao qual o Panasync também procura responder diz respeito à possível existência de versões ou cópias perdidas de um dado ficheiro. Na verdade, o Panasync permite responder às questões: "será que já descobri e juntei todas as cópias?"; "será que posso apagar este ficheiro?". Face a este cenário, e sendo um dos autores particularmente desarrumado, e como tal sensível ao problema, surgiu a motivação para uma análise mais aprofundada do fenómeno. Deveria ser possível conseguir acompanhar a evolução das várias cópias que vão sendo geradas, por forma a que estas sejam sempre comparáveis no que diz respeito ao número de alterações por elas sofridas. Uma vez resolvido o problema, deveria ser possível determinar para quaisquer duas cópias se estas são equivalentes, se uma sofreu mais alterações do que a outra (e como tal uma é mais antiga), ou se as duas viram diferentes conjuntos de alterações. O modelo matemático inicial, do Carlos Baquero, era muito ineficiente na forma como registava a informação do inter-relacionamento das cópias. Estando ele consciente de que existia esse problema, mas não vendo como o ultrapassar, recorre ao seu colega Paulo Almeida. Numa profícua conversa algures em 1999, surge uma analogia com um sistema de lógica digital, o que finalmente abre a porta a uma solução eficiente para o problema. Naturalmente, o problema não cedeu à primeira investida, e foram-se seguindo várias discussões ao longo das semanas seguintes. O resultado preliminar é apresentado num artigo no Encontro Português de Computação Nómada, que decorreu em Tomar em 1999. Nesta fase junta-se à equipa o Victor Fonte, que já tinha contribuído nas discussões anteriores, e o modelo atinge a maturidade necessária para se pensar numa implementação de referência. Devido à necessidade de se obter uma implementação eficiente e próxima do nível do sistema operativo mas ao mesmo tempo de ter uma boa capacidade de modelização, opta-se por C++ e a respectiva STL (Standard Template Library). A propósito, para responder à necessidade de tornar persistente os dados manipulados recorreu-se à XTL (eXternalization Template Library), um projecto de software aberto igualmente desenvolvido na Universidade do Minho, pelo José Orlando Pereira. Os primeiros prototótipos surgem na viragem do ano e permitem já auscultar a aplicação do modelo à gestão de cópias de ficheiros. Surge também um novo artigo, que é apresentado em 2000 na Dinamarca, no Workshop Europeu do grupo de sistemas operativos do ACM. Com o aparecimento do primeiro código surge também a necessidade de se pensar em licenças de software. O conjunto de código que aplica o modelo matemático à gestão de ficheiros é um candidato natural para um modelo de licenciamento com base na GPL (GNU Public Licence). Pretende-se assim proteger o esforço investido nesse código e garantir que eventuais melhorias aos comandos Panasync Tools revertam para comunidade interessada. A questão já não era tão clara para o conjunto de código que concretizava o modelo matemático. Esse núcleo de código é bastante contido e limita-se a concretizar um modelo matemático, modelo esse a expôr publicamente através de publicações de investigação. Não querendo os autores impedir o seu uso em software de código fechado, optou-se por licenciar o núcleo com base na licença LGLP (Lesser GPL). Deste modo o código Panasync arrancou com base no par de licenças GPL/LGPL. Ficou-nos a ideia de que a flexibilidade de licenciamento é uma caracteristica importante para o desenvolvimento do Open Source e do Free Software e que as soluções devem fazer sentido caso a caso. Contudo, a diversidade de licenças e as inúmeras guerras religiosas sobre os modelos de licenciamento deixam antever que a escolha de uma licença continuará sempre a ser uma questão difícil. Com o arranque de um projecto de opção da Licenciatura de Engenharia de Sistemas e Informática da Universidade do Minho, surge a oportunidade de juntar o Nuno Lopes à equipa. Com o seu contributo para a re-estruturação da parte GPL do código, o Panasync adquire em 2000 e no início de 2001 uma maior estabilidade e usabilidade. Ao longo de 2001 procedeu-se à consolidação e documentação do modelo matemático pelo que o código e a divulgação do projecto estabilizaram (para não dizer estagnaram) até à decisão de concorrer ao 1.0 Concurso do Futuro. Esta decisão conduziu à internacionalização das mensagens de ajuda e erro, por forma a incluir a lingua portuguesa, e a uma revisão das instruções de utilização. Com a atribuição do 1º prémio a equipa passa a dispôr de uma máquina que será alocada como posto de trabalho para o Nuno Lopes, uma vez que os outros três autores já possuem recursos individuais no Grupo de Sistemas Distribuídos do Departamento de Informática da UM. Acima de tudo, espera-se que com o prémio se possa dar um arranque expressivo à divulgação do projecto, quer no que diz respeito à captação de novos utilizadores, quer de novos programadores. Todos são imprescindíveis à constituição de uma comunidade activa que se deseja vir a conduzir o desenvolvimento deste projecto. Bom código e código útil não tem nem idade, nem raça, nem sexo. Todas as contribuições e opiniões construtivas são e serão sempre bem-vindas. As tecnologias que nos foram oferecidas pelo desenvolvimento aberto e colaborativo que está na base do kernel do Linux, às ferramentas GNU e a tantos outros modelos de sofware aberto, precisam e merecem uma contribuição de todos os que quiserem construir (com verdadeiro espírito de hacking) novas soluções e novas ferramentas que melhor satisfaçam as suas necessidades e com alguma sorte que ajudem também as satisfazer as necessidades dos outros. Portugal tem bons programadores, e concursos como este podem, indiscutivelmente, estimular a participação em projectos com origem nacional e fomentar o arranque de novos projectos de sucesso. Aqui não há geografia que nos mantenha na cauda da Europa.